DAS COXILHAS SERRANAS:


DAS COXILHAS SERRANAS

Notícias do Programa de Pós-Graduação Stricto sensu em Educação (PPGE)
Mestrado Acadêmico em Educação
Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC) - Lages - Santa Catarina - Brasil

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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Didática da História e Educação para o patrimônio

Ivo Mattozzi (novaescola@fvc.org.br)

Historiador italiano, é docente de História e Didática de História da Universidade Livre de Bolzano e presidente da Clio '92 - Associação de Professores e Pesquisadores de Didática da História

"A história é feita com documentos" é o que se diz na escola e nas explicações sobre a metodologia historiográfica. Mas esses documentos são reduzidos a citações, referências e imagens em livros de historiadores. A relação entre o conhecimento e os documentos se perde nos livros escolares ou é evocada com imagens paratextuais.

As fontes (objetos materiais, mensagens escritas e orais gravadas, imagens, esculturas, paisagens, arquiteturas e centros urbanos) são, em geral, consideradas bens culturais. Mas todas as coisas, antes de serem usadas para a produção de informação, são coisas em sua origem e, no presente, se tornam vestígios de atividades humanas no passado. Em Nell'Apologia della Storia o Mestiere di Storico, Marc Bloch (1998, p. 44) diz: "O conhecimento de todos os fatos humanos no passado, da maior parte deles no presente, possui como primeira característica a de ser (...) um conhecimento por vestígios. (...) O que queremos dizer, na prática, com documentos, se não um 'vestígio', o que equivale a um sinal perceptível aos sentidos, mas que deixou um fenômeno impossível de ser detectado em si mesmo?".

Se a história é apenas a que está nos livros, os alunos perdem a chance de relacionar o conhecimento histórico aos vestígios graças aos quais tal conhecimento foi gerado e não têm a possibilidade de se dar conta dos procedimentos de produção e uso das fontes. Com isso, não terão oportunidade de aprender a interpretá-los. E, caso tenham a chance de considerar os objetos pelo seu valor artístico ou simbólico, não conseguem conectá-los às atividades historiográficas. Além do mais, não adquirem habilidades para dar sentido aos bens culturais do território em que vivem.

Se quisermos honrar a promessa de utilidade do conhecimento histórico, devemos projetar e implementar processos de ensino para relacionar o conhecimento histórico às coisas consideradas bens culturais e despertar a consciência cívica em relação ao patrimônio cultural.

Como demover os alunos da ideia de que a história é apenas texto? Em primeiro lugar, nós, professores, temos de pensar de forma mais geradora os instrumentos usados para a produção da informação histórica. Independentemente do que se trate, nenhum deles foi produzido para essa função. Tinham outros fins em sua origem (utilitários, estéticos, simbólicos, comunicativos, burocráticos, lúdicos etc.). Foram transmitidos até o presente ou desenterrados e considerados sinais de uma atividade humana que os produziu ou os usou. Mas até que alguém os considere objetos que podem ser usados para produzir informação, eles permanecem inertes, podendo parecer insignificantes ou artefatos simbólicos bonitos.

O que se vê atualmente é que os objetos não têm sido usados para produzir conhecimento na sala de aula. Para transformá-los em objeto de informação, é preciso haver vontade de conhecer as habilidades cognitivas e as práticas. Tanto a vontade como as habilidades devem ser postas em cena de acordo com procedimentos organizados: é necessário formular o tema de conhecimento definindo os limites temporais e espaciais e o ponto de vista. Depois, elaborar as perguntas a serem respondidas por meio das fontes. Esse é o funcionamento mental da tematização, a qual induz e orienta, em princípio, a pesquisa e a identificação dos vestígios úteis e conduz a exploração desses a fim de produzir uma informação. Finalmente, é preciso identificar com base em quais elementos é possível produzir as informações desejadas e adequadas.

A matéria, as dimensões e a forma do objeto, seus sinais e mensagens podem (um por um ou todos juntos) ser a base para a produção de informação. Mas eles são insuficientes: o potencial de cada um aumenta se forem levadas em consideração as informações produzidas e a quantidade de coisas quando elas são relacionadas ao contexto (como um livro em relação a uma biblioteca), às séries (uma série de testamentos) e aos conjuntos (como o grupo de edifícios em um complexo urbano). É o sujeito que faz dos objetos instrumentos de informação. Depois de tê-los explorado para o seu propósito cognitivo, ele deve citá-los como peças de apoio, documentação das afirmações factuais e das hipóteses interpretativas. Isso permite ao leitor verificar e criticar os procedimentos em que as fontes foram usadas.

Os objetos (mesmo os documentos escritos são objetos materiais) podem ser tema de pesquisas. Sinais (mesmo os aparentemente banais) da cultura material, obras de arte, conjuntos e séries de objetos devem ser estudados e colocados no centro do discurso histórico. Dispomos, portanto, de uma infinidade de textos que analisam e interpretam vestígios escritos (manuscritos de qualquer tipo, protocolos notariais, diplomas, tratados, contratos, cartas particulares, livros etc.), utensílios, objetos da vida cotidiana, imagens, edifícios e estruturas paisagísticas a fim de facilitar e tornar segura a transformação deles em instrumentos de informação, ou para estabelecer melhor os projetos de restauração, conservação, musealização ou para compreender sua estrutura e configuração.

Quando usados para a construção de conhecimento sobre o passado, os objetos adquirem valor de patrimônio cultural, que deve ser preservado, protegido e posto em exposição. Por um motivo maior, transformam-se em bens culturais caso tenham sido reconhecidos como produtores de emoções estéticas e investimentos afetivos.

Artigo publicado na Rivista dell'Istruzione, Scuola e Autonomie Locali, ano XXIV (2008), 5, pp. 23-28, com o título Didattica della Storia, Beni Culturali, Educazione al Patrimonio.
Fonte: nova escola

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